Fonte: Lusa
Um estudo desenvolvido em Angola por investigadores lusófonos e publicado na passada sexta-feira na revista PLoS one conclui que mais de 40 por cento da população estudada tem anemia e quase um terço das crianças sofre de malnutrição crónica, avança a agência Lusa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj29BIYxPxee-jBPKoqNiqYWUt_lVeeFVJI1RRA9b35HAmAbz-2eVgDx1tErMID6tlM6Vgbs8Ncl2AXcWeZJq2jSVAnirNo22y85uKOZ7Ymwu7AEqo8cRXoX4LDc_50Ejy978208dBDvQo/s320/sa%C3%BAde.jpg)
O estudo resulta do trabalho científico desenvolvido no município do Dande, 60 quilómetros a norte de Luanda, pelo projecto CISA (Centro de Investigação em Saúde de Angola) e incide sobre uma amostra de mais de 3.000 pessoas, 1.000 mulheres e mais de 2.000 crianças.
"A ideia é perceber a dimensão das principais problemas de saúde que afectam estas populações de risco", explicou Susana Nery, acrescentando que as doenças estudadas foram a malária, a shistossomíase urinária (sangue na urina), os parasitas intestinais (nomeadamente ténias), bem como as comorbilidades associadas (desnutrição e anemia), em crianças dos seis meses aos 15 anos e nas suas mães.
O estudo epidemiológico e comunitário, "o primeiro desta envergadura", conclui que as três doenças estudadas são endémicas na população em causa.
No caso da malária, a prevalência foi de 18 por cento entre as crianças e de 9,6 por cento nas mães. O inquérito nacional de malária de 2011 reportou uma prevalência de 10,1 por cento em crianças menores de cinco anos.
A prevalência de shistossomíase urinária em crianças foi de 16,6 por cento e nas mães de 21,7 por cento, valores inferiores à média nacional (28 por cento em 2005). No caso das parasitoses intestinais são mais frequentes entre as crianças em idade escolar (22 por cento), embora com valores inferiores à média nacional (40 por cento em 2005).
"Os níveis de prevalência encontrados não são exactamente iguais às médias nacionais anteriormente descritas pelo Ministério da Saúde, o que é natural, porque uma média para um país como Angola implica uma grande variação geográfica", explicou Susana Nery.
Para a investigadora, os valores encontrados nas três doenças não surpreendem: "O que foi mais surpreendente foram os níveis de anemia encontrados. E de malnutrição crónica"
As conclusões indicam que 40 por cento da população estudada sofre de anemia, enquanto 23 por cento das crianças têm baixo peso e 32 por cento sofrem de malnutrição crónica
Apesar de admitir que os números são semelhantes aos de outros países na África subsaariana, a cientista considera-os preocupantes.
Recordando que a anemia está associada a várias infecções, nomeadamente a malária, e à malnutrição, Susana Nery defende que o seu combate passa por "diminuir a malária, melhorar as condições nutricionais das crianças e reduzir as parasitoses".
O próximo passo do projecto será aliás "testar uma estratégia para reduzir os níveis de anemia e das doenças identificadas nas crianças em idade escolar", afirmou a cientista, explicando que a ideia é "comparar dois métodos diferentes" para verificar "qual a maneira mais eficaz de responder ao problema".
O estudo foi desenvolvido pelo projecto CISA e envolveu o Governo angolano, o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento e a Fundação Calouste Gulbenkian.
O projecto nasceu de uma colaboração entre o CISA e o investigador luso-angolano José Figueiredo, que estava em Londres a fazer doutoramento. No terreno, os autores do estudo são mais quatro investigadores seniores: uma angolana, dois portugueses e um moçambicano.
Sem comentários:
Enviar um comentário